PEQUENO CONTO LUNÁTICO

estrada

By myself, ou seja, fui eu mesmo quem fiz:

O carro avança a toda velocidade pela estrada deserta e poeirenta. Sem obstáculos nem piedade, o sol despeja sua majestade sobre o asfalto antigo e a lataria enferrujada, transformando o veículo num forno sobre rodas. O motorista dirige há horas. Finalmente, distingue uma silhueta ao longe, bruxuleando em meio às ondas de calor que emanam do chão. É um velho, pequeno e encurvado. Tem a pele engelhada de quem levou a vida a granjear o pão de cada dia debaixo do Sol. Ele está parado, esperando sabe Deus o quê. O motorista reduz a velocidade ao se aproximar do velho solitário, até parar o carro ao seu lado. Abre o vidro. Apesar de cansado, irritado e com sono, sorri ao abordar o ancião:

– Boa tarde, senhor.
– Tarde…
– O senhor sabe me dizer se esta é a estrada que leva para a Lua?

O ancião hesitou, parecendo achar que seus ouvidos já um tanto moucos o enganavam:

– Vosmicê disse: estrada para a Lua?
– Sim, foi isso mesmo que eu perguntei…

O velho caiu na gargalhada, deixando à mostra as gengivas há tempos desfalcadas da maioria dos dentes. A reação inusitada deixou o motorista ainda mais irritado. Por fim, o pequenino homem falou:

– Mas é claro que esta estrada não vai dar na Lua!

Quando o motorista se preparava para continuar sua jornada, o velho completou:

– Todo mundo sabe que a estrada para a Lua é para o outro lado…

O motorista virou o carro para o outro lado da estrada que ia dar na Lua, deixando o velho na sua solidão de cada dia. Este, enquanto observava o carro se afastando a toda velocidade, pensou em como as pessoas da cidade são mal educadas.